A praça ouviu. Agora, Aracruz precisa escutar de verdade.

A praça ouviu. Agora, Aracruz precisa escutar de verdade.

Vamos conversar...

Na manhã da última terça-feira (22), a Praça Monsenhor Guilherme Schmitz, no Centro de Aracruz, amanheceu diferente.
O espaço, que normalmente serve apenas como passagem apressada, virou ponto de escuta, cuidado e, quem sabe, de recomeço.

A Prefeitura realizou mais uma edição da Ação Cidadã, voltada para pessoas em situação de rua.
A iniciativa ofereceu serviços como vacinação, corte de cabelo, atendimento médico, psicológico e social.
Gente que vive à margem da cidade recebeu, por algumas horas, o mínimo que todo cidadão merece: ser tratado como ser humano.

Foram 22 pessoas atendidas. Algumas precisavam de um documento. Outras, de uma conversa.
Teve quem buscava uma vaga de trabalho.
E teve quem só queria um banho, um olhar, uma escuta.

Uma dessas histórias é a de L.G.C., 40 anos, morador de Aracruz há 22. Sem ver os filhos há mais de uma década, ele desabafou:

“Comecei a beber com oito anos, escondido, comprando bebida pro meu pai. Errei muito, perdi quase tudo…
Mas hoje senti que alguém me enxergou. Quero tentar de novo. Quero reencontrar meus filhos.”

A ação envolveu profissionais das secretarias de Desenvolvimento Social e de Saúde, além do CAPS, UBS do Jequitibá, Lar da Esperança e IPPES.

Mas a pergunta que fica é outra:

Por que ainda há quem ache que essa população é apenas “caso de polícia”?

O preconceito ainda fala mais alto em Aracruz.
Frases como “eles não querem nada da vida”, “não gostam de trabalhar” ou “são todos criminosos” ainda ecoam por aí.
Mas quem se aproxima, quem escuta, quem acolhe — sabe:
a maioria dessas pessoas chegou à rua por abandono, dependência química, depressão, rompimentos familiares e traumas profundos.

Sim, há quem se esconda nas ruas para fugir da Justiça.
Mas são exceção. E não podem definir a regra.

Pior ainda: a criminalização atinge também quem ajuda!
Voluntários, religiosos ou simplesmente gente solidária já foram julgados — e até ameaçados — por oferecer um prato de comida, umaescuta ou uma coberta.

Ajudar virou motivo de desconfiança.

Essa lógica é perversa.
Não se combate o crime com preconceito.
Nem se resolve a exclusão com repressão.

Aracruz precisa olhar para essas pessoas como cidadãos. E também respeitar quem estende a mão, sem criminalizar a compaixão.
Porque onde o Estado ainda não alcança, são essas mãos — humildes e anônimas — que seguram a corda para muita gente não cair de vez.

A boa notícia é que esse atendimento tem sido feito mensalmente, com cada caso avaliado individualmente por meio de estudo social.
A Secretaria de Desenvolvimento Social vem liderando esse esforço com empenho.

Procurada por nossa equipe, a secretária Roseane Felix afirmou:

“O maior desafio é a aproximação. Muitos já foram feridos, desacreditados. Nem sempre confiam logo. Mas nossa equipe está preparada. Aos poucos, eles percebem que não estão sozinhos.”

E foi exatamente isso que a praça mostrou nesta terça-feira.
Porque ninguém escolhe a rua como destino.
Mas toda cidade pode escolher como vai reagir a isso:
com indiferença ou com humanidade.

ATENÇÃO

🔎 Se você for abordado por alguém em situação de rua:

Evite dar dinheiro diretamente. Mesmo com boa intenção, isso pode reforçar um ciclo de dependência e abandono. Prefira oferecer uma palavra gentil ou uma orientação útil.

Você pode indicar os serviços da Prefeitura de Aracruz, que estão disponíveis de forma contínua, com equipe pronta para ajudar com:

Emissão de documentos

Atendimento psicológico e social

Encaminhamento para retorno à cidade de origem (casos avaliados individualmente)

Apoio para inclusão em programas sociais

📍 Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Aracruz
📞 (27) 3270-7456
📍 Rua Padre Luiz Parenzi, nº 710 – Centro (próximo ao RDC)
🕐 Segunda a sexta-feira, das 8h às 17h

Se alguém disser que precisa de dinheiro para voltar pra casa, comer ou resolver um documento, oriente a procurar diretamente a Secretaria, que é próxima da Praça da igreja matriz, onde geralmente essas pessoas estão.

Orientar com respeito também é um ato de cuidado.