Servidores da Prefeitura de Aracruz têm a oportunidade de conhecer o livro de Hugo Monteiro em palestra sobre a geração do quarto

Servidores da Prefeitura de Aracruz têm a oportunidade de conhecer o livro de Hugo Monteiro em palestra sobre a geração do quarto

Aconteceu no Plenário da Câmara Municipal na tarde desta sexta-feira (23), uma palestra com o escritor e pesquisador Hugo Monteiro sobre seu livro “A geração do quarto – Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”. O evento foi destinado a professores, pedagogos e diretores da Rede Municipal de Ensino, além de psicólogos, assistentes sociais e demais servidores das secretarias de Assistência Social (Semas), Educação (Semed) e Saúde (Semsa).

O evento, que contou com as presenças da secretária Jenilza Spinassé (Semed), da Diretora Geral e Responsável Técnica do Instituto Acalanto, Daniela Reis e Silva, além de representantes do Ministério Público (MP/ES), Secretaria de Educação de João Neiva, Conselho Tutelar e Conselho Municipal de Educação (CMEA), é mais uma ação da Prefeitura de Aracruz, em parceria com o Instituto Acalanto e Suzano, que visa promover e fomentar a cultura de paz nas escolas.

A Secretária Jenilza deu as boas vindas ao palestrante e agradeceu as parcerias na realização do evento. “Não tem como nós ensinarmos se primeiramente não cuidarmos do espaço onde vivemos e trabalhamos. Precisamos criar o melhor clima possível para que todas as ações aconteçam. Esse movimento de hoje é fruto das parcerias com o Instituto Acalanto e Suzano, que nos ajudaram a trazer esse grande estudioso na nossa cidade, cujo conteúdo oferecido por ele é, na verdade, um cuidado com a percepção que nós precisamos ter com nossas crianças, adolescentes e jovens. A ação de hoje é mais uma continuidade nesse processo formativo na busca pela cultura de paz, trabalhando em arranjo, pois acredito que juntos, sairemos daqui renovados, fortalecidos, e certos de que educação é a arma da transformação”, disse.

A Diretora Geral e Responsável Técnica do Instituto Acalanto, Daniela Reis e Silva, apresentou o palestrante ao público, destacando sua respeitada formação. “Gostaria que vocês entendessem o que representa o Hugo para a comunidade escolar e para a população aracruzense, tão afetada pelo atentado ocorrido em novembro do ano passado, considerado o ápice da violência, que atinge as escolas públicas e privadas do país. Ele é pós-doutor em Estudos da Criança pela Universidade Uminho, em Portugal, Doutor em Educação pela UFRN, Mestre em Letras pela Universidade de Pernambuco, Especialista em Neuropsicologia e Psicologia Neuro Comportamental, além de ser graduado em letras, acadêmico de psicologia, professor e escritor de mais de dez obras de ficção voltadas ao público infanto juvenil”, destacou.

Hugo iniciou sua palestra passando ao público uma técnica do budismo tibetano, pedindo que em duplas, as pessoas tocassem as mãos umas das outras, com os braços abertos, em formato de cruz, inspirando e expirando, para depois se abraçarem, como uma ajuda na diminuição da ansiedade e estresse do dia a dia. “Quero que vocês inspirem o que é bom e expirem o que é ruim. É importante esse encontro, essa troca de afetos. Sempre faço essa técnica, que envolve conhecimentos que não são acadêmicos. Estamos falando de trocas de energias, aquilo que a ciência ainda não tinha alcançado, sendo a intuição algo que te ajuda a alcançar resultados”, explicou.

Por meio de slides ele indagou o público sobre o papel da escola e da afetividade, perguntando o que fizemos com nossas emoções. Segundo o pesquisador, “quando o afeto é alterado, todas as estruturas psíquicas são alteradas. Por isso, quando abraçamos uma pessoa, não estamos simplesmente expressando um sentimento ou fazendo um gesto. Talvez, no momento do abraço, estejamos mexendo com todas as estruturas afetivas, de consciência, de atenção, de memórias, de pensamentos e de linguagem, o que nos promove várias alterações”, disse.

O palestrante contou como sua origem em Campina Grande na Paraíba e sua infância no nordeste o levou a ser um pesquisador na área da psicologia infanto juvenil. “Como nordestino, já morei em todas as capitais do nordeste, uma região que eu sou apaixonado. Cresci em um ambiente alegre e afetivo, mas aos sete anos, quando fui para uma outra escola, toda graça antes vivida virou um pesadelo, e minha vida se tornou um inferno, passando a ter uma experiência do mal, de hostilidade, de dor, coisas que eu não estava habituado, não conseguia entender por que acontecia e não sabia me defender. Comecei a sofrer bullyng, e não sabia como dizer aos meus pais. Por isso pensei em me matar duas vezes, pois acreditava que se eu morresse, esse problema seria solucionado. Na verdade eu não queria morrer e não poder mais ver mais minha família, mas queria que aquela dor passasse”, descreveu.

Ainda de acordo com Hugo, essa situação o marcou tanto em sua vida, que ele começou a pesquisar sobre a saúde mental de crianças e adolescentes. Para ele, a questão da emoção nunca foi devidamente estudada pela humanidade ao longo de sua história. “Nós não trabalhamos a antropologia, a sociologia e a história das emoções. A escola, que é uma necessidade da família e da sistematização do saber, nunca foi um lugar para estudar as emoções e a afetividade, por isso não entendemos efetivamente o que são as emoções. Historicamente as emoções foram desconsideradas, por isso temos dificuldades de escutar os outros e andamos pisando em nuvens”, falou.

Também foi destacado o que é a violência simbólica, uma forma de violência exercida pelo corpo sem coação física, causando danos morais e psicológicos considerado pelo estudioso, como aquilo que mais acontece no âmbito interno das escolas. “Temos que enfrentar isso, que funciona como um bullying indireto, que é quando uma pessoa fala mal do cabelo da outra, de sua vestimenta, e até do jeito de andar”.

Em seu livro A geração do quarto – Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar, Hugo reuniu centenas de depoimentos, fortes e sinceros, para apresentar sua tese da geração quarto, que “são aqueles jovens que passam muito tempo dentro desse cômodo, com quase nenhuma interlocução com as pessoas que moram na mesma casa, com muita dificuldade de dizer o que sentem e um potencial de violência contra si ou contra o outro muito intenso, muito forte”, explica o autor.

Finalizando, segundo o escritor do livro, a geração do quarto apresenta um diagnóstico de adultos negligentes com o bem-estar e a saúde mental de meninos e meninas na fase de transição para a vida adulta, que são incapazes de se colocar no lugar do outro. A ausência deste afeto agrava as consequências do bullying, o que pode resultar, nos casos em que as queixas das vítimas não são devidamente acolhidas, seja pelos pais ou pela escola, em sentimentos de vingança contra o outro ou contra si próprio na forma de autolesões, ideação suicida ou suicídio.

Fonte : Prefeitura de Aracruz