Projeto pioneiro recupera área de manguezal devastada por granizo em Aracruz

Projeto pioneiro recupera área de manguezal devastada por granizo em Aracruz

Há um ano, em uma ação marcante no Dia Mundial do Meio Ambiente, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) iniciaram a recuperação de uma extensa área de mangue morto em Aracruz, no Norte do Estado. A área, com cerca de 500 hectares, foi severamente afetada por uma tempestade de granizo em novembro de 2015, somada aos efeitos acumulados das mudanças climáticas.

A iniciativa visa restaurar a vegetação nativa às margens do Rio Piraquê-Açú/Mirim e desenvolver um protocolo de reflorestamento que possa ser replicado em outras regiões do Brasil. O projeto envolve o plantio mensal de cerca de 8 mil mudas, utilizando cinco diferentes técnicas de restauração, e já alcançou 10% da meta de recuperação.

Referência nacional

Segundo os pesquisadores, esta é a maior área de mangue em recuperação ativa no país e pode se tornar uma referência nacional. A expectativa é recuperar 200 hectares nos próximos quatro anos, com um trabalho contínuo que deve durar, no mínimo, uma década. O processo completo de regeneração do ecossistema pode levar até 50 anos.

A professora Mônica Tognella, coordenadora do projeto, destaca que a região já apresentava sinais de estresse hídrico, salinização e ressecamento das folhas antes mesmo da tempestade de granizo, o que comprometeu a capacidade de regeneração natural da vegetação.

“A chuva de granizo foi o ponto de ruptura. A floresta já vinha sofrendo com as mudanças climáticas. O que vemos hoje é o esqueleto do mangue, o que restou da madeira das árvores”, explica Tognella.

Força da comunidade

Além dos pesquisadores da Ufes, a ação conta com a parceria da Prefeitura de Aracruz e o envolvimento direto de moradores da região de Santa Cruz, em sua maioria pescadores e catadores de caranguejo, siri, ostras e ameixas. Eles atuam no plantio das mudas e recebem bolsas financiadas pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

Para muitos, o manguezal sempre foi a principal fonte de sustento. O impacto ambiental foi também econômico e social, afetando cerca de 300 famílias da região. Agora, eles ajudam na recuperação do que chamam de “futuro”.

“A gente faz isso pelos nossos netos. O futuro que a gente vê é grandioso”, afirmou o catador Abedinego De Vasconcelos.

Sinais de renascimento

O esforço coletivo já começa a dar resultados. Em meio ao cenário cinzento, a vegetação começa a se regenerar e espécies antes desaparecidas voltam a surgir. Entre elas, o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), o aratu (Goniopsis cruentata) e a ave colhereiro (Platalea ajaja), considerada um indicador de boa qualidade ambiental.

Com o uso de drones e imagens de satélite, os pesquisadores monitoram o avanço da regeneração e avaliam as técnicas mais eficazes para cada tipo de solo e condição do mangue.

“Não se trata apenas de reflorestar, mas de devolver a vida ao ecossistema. A floresta está voltando e, com ela, a biodiversidade”, reforça Tognella.

O projeto reafirma o papel essencial das universidades públicas, do conhecimento científico e da participação comunitária na construção de soluções sustentáveis para os desafios ambientais contemporâneos.