Trump acende o pavio da guerra comercial: o strike anti-sistema que ameaça a economia global

Trump acende o pavio da guerra comercial: o strike anti-sistema que ameaça a economia global

O governo dos Estados Unidos anunciou uma revisão tarifária do imposto de importação cobrado sobre as mercadorias produzidas nos demais países do mundo e comercializadas no mercado americano. Quanto maior o déficit comercial dos EUA com cada país, maior a tarifa imposta. Países com déficit comercial com os Estados Unidos , como o Brasil, ficam com a sobretaxa menor de 10%. A China com superávit com os Estados Unidos de US$ 361,03 bilhões em 2024, recebeu uma tarifa de 50%. Como a China retaliou impondo tarifação de 34% sobre os produtos americanos, Trump ameaçou dobrar a tarifa a ser cobrada por produtos chineses passando para 104%.

São três os efeitos econômicos imediatos. A incerteza em relação ao novo ambiente de guerra comercial provocou de imediato uma brutal queima de riqueza causada pela queda nos preços das empresas negociadas em bolsa estimada em trilhões de dólares. O segundo é o impacto nos preços dos produtos com componentes sobre tarifados. Estima-se que o preço do iPhone venha a subir 40%. Um modelo vendido hoje no mercado americano por US$999,00 passará a custar US$1.500,00. O terceiro é a recessão que se instalará pela queda nas vendas, na produção e no investimento em escala mundial.

Poucas vezes se viu, nos Estados Unidos e mundo afora, uma medida mais unanimemente rejeitada quanto esta, que mereceu críticas veementes e protestos  de economistas, políticos e empresários de todas as tendências, inclusive de setores que apoiaram sua reeleição. Os mais otimistas acreditam tratar-se de uma estratégia para  se fortalecer em uma futura negociação. A maioria porém entende serem irreversíveis os prejuízos causados ainda que haja um recuo de Trump e se abram negociações com os países com relações comerciais com os EUA, particularmente com a China.

A reviravolta comercial de Trump precisa ser analisada em conjunto com outras políticas agressivas e afrontosas as instituições e as regras vigentes na democracia americana no front interno. A vingança pessoal do presidente contra seus adversários, contra as universidades, escritórios de advocacia, contra os imigrantes com armas de pressão e chantagem ilegal, o desmonte de estruturas de governo, poder judiciário e programas sociais capitaneada por Elon Musk são parte de uma estratégia política clara em direção ao autoritarismo aberto.

A presença ostensiva dos CEO`s das Big Techs na posse de Donald Trump indica também que a tentativa de desacreditar os estados nacionais e regulações nas redes sociais é um ponto de convergência forte  entre o presidente tirano e populista  com as empresas mais ricas do mundo que lucram com o caos.

Acho que Donald Trump comprou briga com muita gente ao mesmo tempo e que ao final será derrotado mas não sem antes deixar um rastro de prejuízo e destruição na ordem econômica e política mundial com sérias repercussões e empobrecimento para o povo americano.

Na democracia as instituições são imperfeitas e inconclusas. Reforma-las e aperfeiçoa-las é o caminho civilizatório que se impõe.

Botar fogo no parquinho não pode.

 

* Engenheiro de Produção. Mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Ex-prefeito de Vitória-ES. Ex- Deputado Federal. Professor Universitário. Consultor.