Vereadora Mônica Cordeiro rompe o silêncio e expõe ferida provocada por ataque homofóbico durante sessão da Câmara de Aracruz, na noite de ontem

Vereadora Mônica Cordeiro rompe o silêncio e expõe ferida provocada por ataque homofóbico durante sessão da Câmara de Aracruz, na noite de ontem

Isso não é sobre política!

Na última sessão da Câmara Municipal de Aracruz, uma fala inesperada cortou o ritmo dos trabalhos legislativos e revelou o que há de mais duro e ao mesmo tempo mais humano na vida pública: a exposição pessoal.

 

A vereadora Mônica Cordeiro, conhecida pela sua atuação próxima das comunidades, pela escuta ativa e por manter as portas do seu gabinete e da própria casa sempre abertas à população, foi vítima de um ataque homofóbico vindo de um perfil falso nas redes sociais. O ataque, direcionado à sua filha — uma mulher lésbica, casada, psicóloga respeitada na cidade — expôs o preconceito e a dor de uma mãe que nunca imaginou ver o amor da filha tratado como ofensa.

Durante a sessão, Mônica solicitou ordem, Respirou, leu o comentário com os olhos já marejados. Não rebateu com ódio, mas com posicionamento. Não transformou a cena em espetáculo. Foi com bom discurso e emoção contida que ela tocou a todos que estavam no plenário e aos que acompanhavam de casa.

 

Vereadora Mônica Cordeiro no momento de sua fala

Procurada pela nossa redação após o ocorrido, Mônica cedeu uma fala com a serenidade de quem não se esconde.

 

“Como mãe e como vereadora, não posso e não vou me calar diante do ódio disfarçado de opinião. Não aceitarei ataques de perfis fakes, nem qualquer forma de violência cibernética que tente calar, intimidar ou ferir quem luta por respeito e inclusão. Minha trajetória é de cuidado e de escuta. Comecei como agente comunitária de saúde, conheço de perto a dor e os sonhos das famílias. Por isso, minha luta é, e sempre será, pela dignidade humana, pelo direito de cada pessoa ser quem é, com liberdade e respeito. Ataques como esses não são só contra mim. São contra todas as famílias que acreditam no amor, na igualdade e na justiça. E é importante dizer, com todas as letras: homofobia é crime. E deve ser tratada como tal.”

A fala teve o tom de uma mulher que se viu atravessada por algo que vai além da política. Como mãe, como cidadã, como alguém que sempre acolheu, escutou, cuidou.

Monica e sua família

Quem conhece e acompanha Mônica sabe é uma mulher simples, de fé, de comunidade. Vai aos lugares mais esquecidos, gosta de abraçar e recebe quem ninguém mais quer ouvir. Quando alguém procura ajuda, não pergunta por quem votou, apenas serve um café, puxa uma cadeira e escuta dentro de sua casa mesmo.

É dessa mesma mulher que surgiu o choro contido na sessão. Uma mulher que não segurou as lágrimas, não por fraqueza, mas por sentir na pele o que tantas mães e famílias sentem quando o preconceito bate à porta e fere quem elas mais amam.

Atacar uma vereadora por meio de sua família, além de covarde é um ato de violência simbólica que revela o que há de mais perverso no jogo político: atingir a mulher pública por onde ela é mais forte e, ao mesmo tempo, mais vulnerável, seu papel de mãe. Usar a identidade da filha como alvo não demonstra coragem ou opinião, mas a tentativa desesperada de calar, humilhar e ferir alguém que representa, com firmeza e afeto, um mandato comprometido com o respeito às diferenças. É a face mais cruel do preconceito: não enfrentar ideias, mas buscar destruir laços.

Na fala serena que cedeu à reportagem, Mônica não quis acusar ninguém. Quis apenas lembrar que o amor não deveria ser arma nas mãos de covardes. E, sim, registrará a  ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Aracruz para que desvendem esse perfil fake.

A tentativa de calá-la, ainda que cruel, revelou exatamente o que ela representa para a cidade: uma ponte entre o povo e o poder. Uma figura que acolhe, que representa, que não se esconde da dor dos outros e que também não esconde a sua.

Não é só sobre ela. É sobre todas as mães que acolhem. É sobre todas as filhas que precisam existir sem medo. É sobre uma vereadora que, diante da maldade, escolheu seguir sendo quem sempre foi.

 

Vereadora Monica Cordeiro e sua filha Doutora Gabriela

Desde 2019, com a decisão do Supremo Tribunal Federal, a homofobia e a transfobia passaram a ser enquadradas como crime de racismo, o que torna ofensivas desse tipo passíveis de punição com reclusão.

Ataques como o sofrido pela vereadora Mônica não são meros “comentários infelizes“, são delitos tipificados, e a Justiça tem tratado com cada vez mais rigor esse tipo de violência. As forças de segurança, por sua vez, vêm aprimorando os mecanismos de investigação digital: perfis falsos que antes se escondiam atrás da impunidade virtual hoje têm sido localizados com maior precisão, graças ao rastreamento de IPs, uso de inteligência cibernética e cooperação com plataformas.

A responsabilização criminal uma realidade que se aproxima, e com ela, a certeza de que o ódio não mais encontrará abrigo no anonimato.

Porque às vezes, como Mônica mostrou, na vulnerabilidade que pode se encontrar a maior coragem.

Monica também declarou que já estava ao lado da filha e em casa, recebendo e dando apoio.

Nós, da redação do Consórcio de notícias Brasil, em especial do Folha Aracruz, deixamos nossa nota de repúdio a esse tipo de manifestação preconceituosa e nossa sororidade à Vereadora Mônica Cordeiro.