Ataque às escolas de Coqueiral ainda provoca dor e medo da liberdade do autor

Ataque às escolas de Coqueiral ainda provoca dor e medo da liberdade do autor

Reunião entre famílias, professores e autoridades escancara o trauma que ainda marca o bairro e reforça o apelo por justiça e mudanças na legislação brasileira

Coqueiral de Aracruz. Anos depois do ataque brutal que chocou o município de Aracruz e o Espírito Santo, quando um jovem armado invadiu duas escolas em Coqueiral, assassinando crianças e educadores e deixando várias vítimas feridas, as cicatrizes emocionais seguem abertas nas vítimas, em suas famílias e em todo o bairro.

Por muito tempo, o assunto foi evitado por todos. Mesmo entre os que sempre estiveram mais próximos, pairava o medo de reabrir uma ferida tão dolorosa. Mas, na última semana, um passo importante foi dado. Familiares das vítimas, professores e autoridades se reuniram para finalmente discutir abertamente o que aconteceu, cobrar ações concretas e buscar soluções para garantir que um episódio como aquele jamais se repita.

A reunião foi organizada por um grupo de mães lideradas por Juliana Pessotti, mãe da aluna Thaís, sobrevivente do ataque à escola particular. Estiveram presentes o deputado estadual Alcântaro Filho, o secretário de Governo de Aracruz, Saulo Meireles (representando o prefeito), os vereadores Mônica Cordeiro, Adriana, Kapitão, DanDan e Renatinho, além de professores, familiares e representantes da comunidade. A Folha Aracruz acompanhou de perto toda a reunião.

Entre os participantes, estavam também professores que presenciaram o ataque nas escolas estaduais, incluindo Degina, Sandra, Aristênia, Jéssica e João Paulo, viúvo da professora Flávia, vítima fatal da tragédia. Pela escola particular, estiveram presentes Thaís (representada por sua mãe, Juliana) e os avós paternos da aluna Selena, também vítima fatal, Lauderico e Ana Célia.

A pauta mais sensível da noite foi a iminente soltura do autor do ataque, prevista para novembro, quando completará a maioridade penal. A possibilidade de que ele volte a circular pelas ruas de Coqueiral gerou revolta e um forte sentimento de injustiça entre os presentes. Como disse uma das mães:

“É revoltante saber que um jovem que tirou vidas e destruiu famílias possa simplesmente voltar a andar por aqui.”

Em um discurso direto e sem rodeios, o vereador Renatinho do Detran foi uma das vozes mais firmes do encontro. Sem meias palavras, declarou:

“Esse rapaz precisa terminar sua sentença. Não podemos aceitar que um crime dessa gravidade termine sem a punição completa. O que aconteceu aqui foi um massacre contra crianças e professores. É urgente revermos as leis do nosso país. Não é justo que, em um caso como este, a legislação permita uma saída tão fácil. Isso não é justiça.”

Durante toda a reunião, foi possível perceber o quanto o tema ainda causa dor e indignação. Professores relataram que muitas das promessas feitas na época do ataque não se concretizaram. O apoio psicológico, tão necessário, foi reduzido, e muitas famílias se sentem abandonadas.

“O trauma segue aqui. As promessas também”, resumiu um dos professores.

Nossa redação extraiu das redes sociais, um relato chocante de Fred Martins, policial Militar.

“Mesmo de folga, fui ao bairro assim que soube. Vi alunos correndo e professores pedindo ajuda. Entrei na escola, sozinho, armado apenas com minha pistola. O cenário era de guerra: portas furadas, alunos feridos, barricadas improvisadas. Estudei ali a vida toda. Foi um pesadelo. Mas também testemunhei a coragem dos professores, que agiram como verdadeiros heróis. Minha filha tem a mesma idade das crianças que estavam lá. Não poderia fazer diferente”.

Em sua declaração a nossa equipe, posterior ao evento, abalado, Kapitão comentou.

“Nos reunimos nessa data de hoje com muito pesar no coração. O ataque ocorrido em Coqueiral, no dia 25 de novembro de 2022, foi uma tragédia sem precedentes no nosso município. É imensurável a dor das vítimas que presenciaram esse ato covarde. A segurança nas escolas deve ser uma das prioridades de todos, por isso é muito importante investirmos em medidas que possam evitar que tragédias como essa se repitam. Meus profundos sentimentos às famílias que perderam seus entes queridos e que presenciaram tamanha barbárie!”

A reunião também evidenciou a importância da mobilização da comunidade. Embora vereadores e representantes do Executivo tenham comparecido, e muitos tenham demonstrado sensibilidade ao tema, ficou claro que ainda há muito a ser construído.

Em tempos em que a sociedade se vê diante de crimes cada vez mais graves envolvendo menores, o caso de Coqueiral reforça um debate que precisa avançar:

Até quando leis brandas para crimes bárbaros continuarão colocando a vida dos inocentes em risco?

A Folha Aracruz continuará acompanhando de perto este caso e cobrando ações que garantam memória, justiça e segurança para as famílias e para toda a comunidade.