Especial CNB: entenda a guerra Israel x Irã

Especial CNB: entenda a guerra Israel x Irã

Neste fim-de-semana, os Estados Unidos da América anunciaram um ataque bem-sucedido contra instalações nucleares no Irã. Caças americanos destruíram as usinas de Fordon, Natanz e Esfahan, no episódio até agora mais dramático de uma guerra que escalona entre Irã e Israel.

A situação faz perguntar o que pode acontecer aos envolvidos, principalmente ao Irã. Cogitar isso exige entender o conflito entre Irã e Israel; e entender esse conflito exige entender o Irã, bem como sua posição no contexto geopolítico do Oriente Médio, região onde está localizado. É um esforço que requer combinar dados históricos e projeções, mediados pelo contrapeso da objetividade.

Irã

O Irã é um país derivado do Império Persa. Grande parte de sua etnia advém da raça indo-européia conhecida como “arianos”. Seu território ocupa uma área que, por seu petróleo e localização, é considerada estratégica. Desde a Segunda Guerra Mundial, isso a torna alvo de disputas geopolíticas, acentuadas pela incidência de potências como Rússia, Reino Unido e, finalmente, EUA.

O Irã possui um estado muçulmano. Seu governo se baseia em princípios morais e políticos derivados de estudos sobre o Alcorão. Esses princípios são protegidos por um conselho formado por altas autoridades do dreito, da filosofia, da teologia e de áreas afins. Ele usa dos princípios para analisar candidatos à presidência, propostas de lei e outros assuntos, aprovando ou descartando. A maior das autoridades é o “aiatolá”, título obtido por meio de uma vida inteira dedicada a estudos aprofundados.

Apesar desse formato teocrático, o Irã possui eleições presidenciais, bem como partidos políticos de vários matizes ideológicos. Esses matizes incluem desde liberais até comunistas. Muitos deles estão presentes naquele conselho.

Divergências

Mesmo sendo muçulmano, o Irã diverge da maior parte dos países de mesma base religiosa. Isso ocorre porque o Irã é um país de orientação xiita, enquanto cerca de 90% dos países islâmicos são sunitas. Como resultado, surge entre eles divergências teológicas acentuadas, com conseqüências geopolíticas amplas. Ademais, essa base muçulmana põe o Irã em divergência com Israel, país de base judaica.

O Irã também possui divergências internas entre liberais e teocratas. Quando atiçada por interesses externos, essas divergências levaram o Irã a convulsões domésticas, resultando em atritos com potências como os EUA e o Reino Unido. Durante algumas ocasiões, o Irã buscou se reaproximar dessas potências. Em 1979, a Revolução Iraniana interrompeu essa aproximação, gerando rompimento profundo com aqueles países.

Oriente Médio

Apesar de nevrálgica, a divergência iraniana não reduziu a forte influência dos EUA no Oriente Médio. Desde o governo Bush pai, os americanos costuraram na área uma diplomacia estratégica bem-sucedida, baseada na divergência de xiitas com sunitas. Além disso, realizaram intervenções militares em países como Iraque e Afeganistão, ampliando sua influência.

O prestígio americano na área favorece Israel. O estado israelense forma parcerias sólidas com os EUA por meio de instituições como o Comitê Americano de Assuntos Públicos de Israel (AIPAC), além de contatos na Casa Branca. Entre outras vantagens, isso permite Israel robustecer suas forças armadas com empréstimos e equipamento bélico americanos. Enquanto isso, defensores desse arranjo afirmam que os EUA teriam o benefício de contar com Israel na área, o que equivaleria a manter ali um porta-aviões.

Uma das principais conseqüências dos EUA no Oriente Médio é a neutralidade de países sunitas. Isso impõe isolamento ao Irã em conflitos como o atual. A situação beneficia os interesses geopolíticos de Benjamin Netanjahu, atual presidente de Israel. Esses interesses incluem expansão territorial e enfraquecimento de possíveis rivais, justificados como partes de um plano protetivo.

Ataques

Como se pode deduzir, o resultado prático de todo esse contexto é uma influência maciça e crescente de Israel sobre o Oriente Médio. Seu avanço praticamente esbarra apenas no Irã, por causa das incompatibilidades entre os países. Apesar desse contexto de interesses, os ataques israelenses àquele país tem sido justificados com base em argumentose defensivos.

O principal desses argumentos é a suposta presença no Irã de armas nucleares. A suspeita se baseia no tipo de urânio adquirido pelo Irã para abastecer suas usinas. Ele seria de um tipo suficiente para produzir bombas. A acusação, no entanto, é controversa. O Irã é membro do Acordo de Não-Proliferação Nuclear, recebendo mais fiscalização do que os demais membros. Ademais, o Irã parece ser economicamente incapaz de algo dessa complexidade: sem indústria bélica própria, aquele país precisa importar até mesmo equipamentos básicos, como fuzis.

Existem também acusações de que o Irã financiaria o terrorismo por meio de uma rede de apoio criminosa, cuja presença se estenderia até mesmo na América do Sul. Como no caso das bombas nucleares, a acusação é igualmente controversa. Para alguns, não existem pistas, provas ou evidências sólidas suficientes para se confirmar a existência dessa rede.

Futuro

Os futuros eventos desse conflito parecem exigir levar em conta a maneira como os EUA agiram no passado em situações parecidas. Em seu segundo mandato, Donald Trump parece ter abandonado sua promessa de retirar os EUA de guerras. Com isso, as iniciativas americanas na área podem ser tornar cada vez mais expressivas.

Dessa forma, o destino do Irã pode vir a ser o mesmo do Iraque. Com um regime outrora apoiado pelos EUA, o Iraque foi ocupado pelos americanos, que destituíram seu líder e instalaram ali um regime democrático e liberal. É possível que os EUA repitam no Irã o mesmo esforço de “liberação”, com implantação de um regime não-teocrático, divergente do atual.

Outra possibilidade é a de que o Irã receba apoio de um país interessado em obter seu próprio prestígio no Oriente Médio. Esse apoio poderia vir, por exemplo, da China. De fato, o Partido Comunista Chinês tem ampliado sua influência na área, garantindo ali seus interesses comerciais e logísticos. Outra possibilidade, talvez mais remota, é um apoio da Rússia. Durante a Guerra Fria, os russos apoiaram a Mongólia quando esta estava prestes a ser anexada pela China.

A última possibilidade, talvez a mais improvável, é a de uma retaliação solitária do Irã. Isso depende da capacidade militar do Irã — que, como dito, parece ser insuficiente para isso. Caso existam de fato armas nucleares no Irã, usar delas numa retaliação seria praticamente impensável. Isso comprovaria a suspeita de que possuem armas nucleares, atiçando uma resposta ainda mais intensa por parte dos EUA e de Israel.

(Com informações de Agência Brasil, Shockwave Radio e programa Historia Magister. Imagem: gerada por IA / ChatGPT)